Canabis Medicinal

História da cannabis medicinal

Durante milhares de anos os seres humanos se utilizaram de produtos naturais para prover fibras, alimentos e remédios, dentre esses se destaca a Cannabis Sativa. Diversas civilizações ao passar das eras cultivaram a Cannabis para obter seus extratos e fibras. Além dos atributos medicinais, suas propriedades psicoativas eram comumente referenciadas como capazes de promover elevação espiritual em rituais sagrados. Dessa maneira o cultivo e consumo da Cannabis pelos seres humanos atravessa quase 10.000 anos, desde de a representação deusa Sechat no antigo Egito, dos escritos médicos do Imperador Shen Nung na china, como planta sagrada citada no Atharva Veda hinduísta, ou mesmo como componente do óleo sagrado cristão.
Dada suas propriedades medicinais promissoras ainda em 1899 foi isolado o primeiro canabinoide da planta o Canabinol. Anos se passaram e na década de 60 o pesquisador israelense Raphael Mechoulam, isola e identifica as estruturas do CBD e THC os principais canabinoides da planta. A ação farmacológica dos canabinoides, intrigaram os pesquisadores e no início dos anos 90 após muita pesquisa foi sendo elucidado o Sistema Endocanabinoide e com ele uma nova esperança.


Sistema Endocanabinóide

Assim como possuímos um sistema digestivo, um sistema circulatório também possuímos o Sistema Endocanabinóide (SEC). O SEC pode ser definido como um sistema neuromodulador e desempenha várias funções regulatórias, incluindo cognição, controle do apetite e analgesia, medeiam a plasticidade neuronal e neurogênese. Diferente de outros sistemas que possuem órgãos primários bem estabelecidos, como é o caso do estomago ou coração, o SEC não possui órgão primário, estando presente em diversas partes do organismo e consiste principalmente em dois receptores primários da família de receptores acoplados à proteína G (GPRs): receptores canabinoides 1 e 2 (CB1R e CB2R), e dois neurotransmissores canabinoides endógenos (endocanabinoides) primários: N -araquidonoil etanolamina (anandamida) e 2-araquidonoilglicerol (2-AG) e também pelas as enzimas responsáveis pelo seu metabolismo.

Atua como regulador no mecanismo fisiológico de várias funções do corpo humano como:
>> Controle do Balanço Enérgico
>> Transporte de Nutrientes
>> Termorregulação
>> Metabolismo
>> Inflamação
>> Emoção
>> Reprodução
>> Controle Muscular
>> Estresse
>> Humor
>> Memória
>> Dor
>> Apetite


Receptor CB1

Os receptores canabinoides CB1 estão difundidos por todo o corpo, mas estão concentrados principalmente no sistema nervoso central, sendo o principal receptor de proteína G do cérebro Humano. Responsável por áreas ligadas ao controle motor, aprendizagem, memoria, cognição e emoção o CB1, desempenha papel importante em doenças neurológicas, ataxias, na percepção da dor, apetite e de disfunção de movimento. O RCB1 também está ligado aos efeitos psicotrópicos dos canabinoides e é neste receptor que o THC se liga.


Receptor CB2

Os receptores canabinoides CB2 assim como o CB1 estão espalhados por todo o corpo, mas concentrado principalmente em órgãos e células ligada a resposta imune. A modulação do CB2 está ligada a liberação de citocinas, migração de células imunes e consequentemente na resposta a inflamações como ocorre na doença de Parkinson, Alzheimer, Huntington dentre outros.


Anandamida

A Anandamida é uma agonista parcial dos receptores CB1 e CB2, mas tem demonstrado uma maior afinidade com o CB1. Ela é sintetizada em áreas do cérebro que são importantes para a memória, motivação, controle de movimentos e processo de pensamentos elevados. Também foi descoberto que a Anandamida desempenha um papel significativo na fertilidade, ansiedade, dor e apetite. A anandamida é sintetizada pela enzima NAPE e sua degração ocorre graças a FAAH. Seu nome deriva do sânscrito ananda, que significa "felicidade" ou "prazer extremo" e foi batizado desta maneira pelos cientistas que a descobriram.




2-Araquidonoilglicerol (2-AG)

O 2-AG tem demonstrado ser um agonista completo, tanto dos receptores CB1 como CB2. Ele é a principal molécula de ligação do receptor CB2, desempenhando uma função importante na regulação do sistema imunológico e gerenciamento de dor. O 2-AG é sintetizado pela DAGL e metabolizado pela MAGL




Fitocanabinóides

Além dos canabinoides naturais no cérebro, o CB1R e o CB2R atuam como receptores para diferente ligantes de canabinoides externos. A planta Cannabis sativa (comumente conhecida como maconha) vem sendo utilizado por mais de 10.000 anos pela humanidade devido a suas fibras, propriedades medicinais e psicoativas ligadas a espiritualidade. A maconha contém mais de 60 canabinoides farmacologicamente ativos (fitocanabinoides) identificados até o momento, dentre eles o Δ 9 tetra-hidrocanabinol (THC), o principal composto psicoativo da planta, e canabidiol (CBD), o principal composto não psicoativo da planta. Estes e outros compostos da C. sativa estão sendo amplamente estudados por suas características imunomoduladoras e neuroprotetoras frente ao tratamento de sintomas de doenças como doença de Parkinson, doença de Alzheimer, Esclerose Multipla, doenças autoimunes, cânceres e recentemente para a COVID 19.

A Cannabis apresenta além do THC e CBD uma gama diversificada de flavonoides, terpenos e outras moléculas bioativas que se somam nas atividades farmacológicas, ampliando sua ação medicinal naquilo que foi denominado de efeito comitiva.






Canabidiol CBD

O Canabidiol foi isolado em 1940 e sua estrutura só foi elucidada no ano de 1963. Principal componente não psicoativo da planta o CBD tem emergido para o tratamento de sintomas de diversas doenças crônicas, neurológicas e psiquiátricas. O CBD não interage tão fortemente aos receptores canabinoides, e sua ação neste sistema se dá principalmente pelo bloqueio da recaptação e/ou hidrolise endógena do endocanabinóide anandamida. Apesar de não interagir tão fortemente com o CB1 e CB2, o CBD é capaz de modular diversos outros receptores, atuando como uma molécula “promiscua” e desta maneira levando uma melhora da saúde global do paciente
Dentre suas ações:
>> Analgesia por diminuição da excitabilidade neuronal
>> Antioxidante
>> Anticonvulsivante
>> Anti-inflamatório
>> Ansiolítico via receptor 5-HT
>> Hipoglicemiante
>> Neuroprotetor
>> Imunomodulador


Δ-9-Tetrahidrocanabinol – THC

O THC teve sua estrutura isolada e identificada no ano de 1964. O THC é agonista do receptor CB1 e o principal responsável pelos efeitos psicotrópicos da planta. O THC também está relacionado com muita das propriedades medicinais da cannabis e que pode ser utilizado para o tratamento de sintomas de diversas patologias dentre elas:
>> Aumento do Efluxo de dopamina
>> Tratamento de dor crônica e neuropática
>> Antiemético
>> Estimulante do apetite
>> Inibe a formação de proteínas patológicas no cérebro
>> Tratamento do glaucoma
>> Cuidados paliativos


Canabigerol – CBG
O CBG é um fitocanabinoide não psicoativo que normalmente é encontrada em uma concentração inferior à 1%. É a substância percursora de vários outros canabinoides como CBD, CBN e CBC. O canabigerol apresenta um efeito extremamente potente nos receptores CB2 que estão relacionados ao funcionamento do sistema imunológico e dos nervos periféricos.

CBG também é um potente agonista de PPARs, fatores de transição que sinalizam a inflamação dentro do núcleo da célula. Esses fatores funcionam como mensageiros nos processos antioxidantes e anti-inflamatórios no organismo. Quando os PPARs são ativados, estimulam o organismo a diminuir a inflamação e agem como um efeito antioxidante.


Canabinol – CBN
Canabinol ou CBN, é um composto derivado da oxidação do delta-9-THC. Por isso, normalmente está presente em maiores quantidades em extratos de cannabis armazenados por tempo prolongado. O CBN vem demonstrado um grande potencial antiinalmatorio e antibacteriano, porém tem chamado muita atenção para a sua capacidade de modulação e manutenção do sono, colaborando com o relaxamento dos pacientes.
>> Melhora da higiene do sono
>> Ansiedade
>> Anti-inflamatório
>> Antibacteriano